Poética vazia.
(Ednaldo B. de Sá)
Sentei-me.
O vento me soprava.
Sequer inspiração eu tinha.
Que pútrida mente procrastinadora.
Deitei-me.
Na praia, pensava.
Preparava as poucas palavras.
E as ondas ainda não me alagavam.
Aproximei-me.
Do mar pedia mais palavras.
Dos ventos os mesmos sofrimentos.
Eu queria arrancá-las de nossa brava Natureza.
Direcionou-me.
As ondas miraram meu corpo.
De súbito, uma psicose dilacerou minha mente.
E as ondas de Vigo subiram até inundar de vocábulos o último verso de minha poesia.________________________________________________
Linda moça cigana.
(Ednaldo B. de Sá)
Linda moça cigana.
De uma pele grossa e rugosa,
Dos cabelos mais duros que vimos,
Dos gases mais fedorentos que sentimos.
Linda moça cigana.
Que sofria de cólera,
Vivia mijando na cama
E em casa ficava se lamentando.
Linda moça cigana.
Um marido apenas queria
E conseguiu o que tanto pedia.
Através de um banho Maria.
Linda moça cigana.
Foi um crioulo banguelo.
Extremamente tagarela.
Que bateu em sua janela.
Linda moça cigana.
Que de tantas janelas.
Não ficava com a boca aberta.
Com medo da verdade sincera.
Linda moça cigana.
Tivera uma mulatinha
Que de tão pretinha
Não se sujava com nada.
A mocinha cresceu.
A pobre mãe faleceu.
E o pai também morreu.
E ela? Alguém a esqueceu?
A negrinha já era moça.
Nômade como uma cigana.
Linda? Na alma apenas.
Linda moça cigana.
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Do saboroso beijo, sucumbe a lúgubre flor.
(Ednaldo B. de Sá)
Vejo as gaivotas indo embora.
O Crepúsculo já é anunciado.
Sentado no morro, encubro-me de lágrimas.
Uma semente germina de tamanha obscuridade.
Lembro-me de tal fato, de tal beijo que me atrevi.
Que senti de sua boca doce e amarga.
Recordo-me do sangue derramado de meus lábios.
Amarga dor, mas doce conforto.
Agora, no exílio, observo tudo.
Todos me observam
Malditos abutres.
E a semente continua a ascender.
Passaram-se os tempos, divina Carla.
E as aves traíram-me.
Onde estão as gaivotas? Onde?
E a semente, ah, já é flor.
Sou uma recatada alma,
Minha amada encantadora.
Meus embaraçados ossos
Entristecem a flor.
Flor que eu vi.
Flor que nasceu de mim.
Flor que viveu de ti.
Flor que chegou ao fim.
Sucumbe minha alma.
A temeridade devora-me.
Como uma aurora em certas horas.
Busco nos ventos teu brilho, airosa Carla.
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Uma fugaz demência.
(Ednaldo B. de Sá)
Passei pelo bosque.
Vi a linda lua atenuante.
Arrancou-me uma leve lágrima.
Foi apenas a recordação de um passado.
Cintilantes são as estrelas que brilham no céu.
As angústias cobrem-me como se fosse um véu.
Sinto-me atraído por aquele alto da montanha negra.
Ah, ouço vozes do além quando me aproximo do ápice.
É a limada moça que voa ao meu redor e clama por meu nome.
Salto da montanha e me agarro aos seus braços.
Sinto a vida se despedindo de mim.
Fora o delírio dos devaneios.
Que me fez viver assim.
E ser um verme.