sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Lírica Oculta.

Destaca-se o ambíguo aroma de minha amada em meus devaneios que, como uma formosa rosa, me fazia navegar pelos riscos de uma paixão improvável. Vejo-te em todos os lugares. Sinto tua alma angelical afligir-me e provocar-me um genuíno frenesi carnal. Ah, estrelas cintilantes, lua reconfortante. Tudo se volta para a mais bela de Morfeu. Não quero mais conhecer minha verdadeira realidade, mas sim, o profundo sorriso de te sentir em meus sonhos, saboreando de uma delirante sinestesia que teu corpo provoca em meu ser. Infelizmente, a vida é mortal, impiedosa e traiçoeira. O sol reacende-se e consigo, através dos raios luminosos que dilaceram minha alma, vem a mais profunda dor. O seu enlace com outro é iminente. Animalizo-me, desumanizo-me e desfruto de minha condição de verme. Verme em vida, vida de verme. Por ti, às noites, vivi com a mais pura obscuridade. Por ti, nos sonhos, fantasiei a aproximação de teu corpo ao meu. Por ti, falecerei, vivendo a mais pura nostalgia que tivemos, pois me dera a Morte, mas concedeu-me, acima de tudo, a Vida e o sentido de minha existência.

Do saboroso beijo, sucumbe a lúgubre flor.

Vejo as gaivotas indo embora.
O Crepúsculo já é anunciado.
Sentado no morro, encubro-me de lágrimas.
Uma semente germina de tamanha obscuridade.

Lembro-me de tal fato, de tal beijo que me atrevi.
Que senti de sua boca doce e amarga.
Recordo-me do sangue derramado de meus lábios.
Amarga dor, mas doce conforto.

Agora, no exílio, observo tudo.
Todos me observam
Malditos abutres.
E a semente continua a ascender.

Passaram-se os tempos, divina Carla.
E as aves traíram-me.
Onde estão as gaivotas? Onde?
E a semente, ah, já é flor.

Sou uma recatada alma,
Minha amada encantadora.
Meus embaraçados ossos
Entristecem a flor.

Flor que eu vi.
Flor que nasceu de mim.
Flor que viveu de ti.
Flor que chegou ao fim.

Sucumbe minha alma.
A temeridade devora-me.
Como uma aurora em certas horas.
Busco nos ventos teu brilho, airosa Carla.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Uma fugaz demência.


Passei pelo bosque.
Vi a linda lua atenuante.
Arrancou-me uma leve lágrima.
Foi apenas a recordação de um passado.

Cintilantes são as estrelas que brilham no céu.
As angústias cobrem-me como se fosse um véu.
Sinto-me atraído por aquele alto da montanha negra.
Ah, ouço vozes do além quando me aproximo do ápice.

É a limada moça que voa ao meu redor e clama por meu nome.
Salto da montanha e me agarro aos seus braços.
Sinto a vida se despedindo de mim.

Fora o delírio de minha cabeça.
Que me fez tomar tal atitude.
E tornar-me um verme.