domingo, 2 de janeiro de 2011

Crônica de um infeliz patriota.

   Estava acontecendo mais um movimento estudantil contra a greve dos professores de uma faculdade por causa do descaso dos poderes públicos que não repassou a quantia suficiente de verbas para manter os salários dos educadores atualizados. Mais uma revolta, mais uma derrota, mais uma alienação?
   O líder do movimento era um estudante de Direito, cuja maior inspiração era pelos grandes socialistas Che Guevara e Karl Marx. Ele chefiava o movimento há três anos. Sim, há três anos não havia aulas na universidade daquela cidade devido ao velho poder consumista de nossos políticos, devido à idosa politicagem que faz os nossos homens públicos.
   O educando seguia com o seu movimento espalhando ideais, pensamentos, princípios, fundamentos e todos os outros sinônimos dessas mendicantes palavras que se perdiam pelas ruas. A velha repressão continuava perseguindo aqueles medíocres acadêmicos.
Policiais, soldados, outros militares, estudantes, outros estudantes todos eles acossavam aqueles singelos e poucos universitários exaltados. Ninguém desejava perder os antigos recursos que o Estado lhe dava. Entretanto, aquela contínua rebelião juvenil crescia numericamente com o passar dos dias, dos meses, dos anos, dos tempos.
   O estudante de Direito já tinha se formado, concluído o mestrado e estava fazendo já o seu doutorado. Ele foi um dos presos daquela revolta e foi exilado. O exílio certamente proporcionaria àquele acadêmico um maior sentimento de revolta daqueles militares que estorvavam os revoltosos de poderem usufruir daquilo que é necessário para eles, para nós, para a sociedade que é demente e extremamente medíocre, visto que até ela se opôs aos perdidos dessa cidade, desse lugar que de tão incomum acabou se tornando trivial. Sim, trivial. Agora não era mais só aquela cidade que passava por aquele lúgubre momento e sim todo país.
   Foram um, cinco, dez, quinze, vinte anos de conflitos com aqueles abutres soldados daquele país. Jamais tinha visto um lugar tão invulgar quanto àquele.
   Finalmente, o movimento chegou ao seu desfecho. Apenas doze, velhos e devaneadores, acadêmicos do passado continuavam a buscar por suas aulas antigas, antigos prazeres intelectuais de suas mocidades e antigas bordoadas constantes. O comandante dos militares era o mesmo educando de Direito anteriormente. Ele conseguiu sua libertação daquele exílio infernal. Todavia, os seus sonhos tinham morrido e agora lutava para manter o velho sistema político, econômico e ideológico dessa nação. Por que fizera aquilo?
   Os doze velhos viraram sete. O governo já trocara a forma de poder, mas continuava a maldita opressão aos exaltados e a mesma forma de governar. Somente um antigo dos velhos revoltados sobrevivia e tinha um sentimento de vingança em sua alma tão imensa e possante que ambicionava matar o traidor dos rebeldes. Ele não tinha nada a ganhar, contudo também não tinha nada a perder.
  A vingança do pobre velho não ocorreu. Tinha sido fuzilado pelos generais por ter ousado matar o ex-revoltado que se tornara membro fiel do Estado. Este ficou terrificado com o acontecido de tal forma que se tornou um temerário de fato. Dias depois, cometeu um suicídio em seu apartamento. Levaram-no ao cemitério. Um senhor avistara um papel chamativo na casa do falecido. Leu uma frase contida na folha. Era um trecho apenas e algumas poucas e vagas palavras que traziam isso: “Infelizmente, não consegui trazer o meu sonho à realidade. Vocês não sabem o quanto eu fui violentado para me manter calado. Substituí todo o nosso escopo por uma liberdade que me trouxe a morte. Porém, esta me devolveu a Liberdade novamente”.

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